
Acompanhamos a rotina da mulher que dá vida à Dafne, a personagem principal da novela Caras e bocas. Descobrimos que Flávia Alessandra é uma carioca de hábitos simples. Aqui, ela diz o que pensa sobre casamento, traição, separação, terapia e como lida com a fama
Mesmo às seis horas da manhã, levemente despenteada, sem maquiagem e com os olhos inchados da noite mal dormida, Flávia Alessandra, 35 anos, é desconcertante. O sorriso largo, o olhar penetrante, a boca bem desenhada, as formas invejáveis e a pele branquinha compõem uma beleza ímpar. Sim, ela é linda até quando acorda. A atriz vestia uma camiseta branca, shorts jeans e chinelos havaianas quando recebeu Marie Claire em sua casa para acompanhá-la durante um dia de trabalho. Seu queixo anguloso e a estatura mediana (1,67 metro) não interferem na imagem de mulherão que transmite. Como ela mesma diz, aprendeu a valorizar seus pontos positivos.
Flávia mora em um condomínio de classe média alta na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Ela não costuma receber a imprensa ali. Diz que não gosta de expor sua intimidade. A casa é a última de uma rua sem saída, numa parte tranquila e arborizada do conjunto residencial. Nada indica que ali vivem dois globais famosos - Flávia e seu marido, o ator Otaviano Costa, com quem é casada há três anos -, Giulia, de nove anos, filha do primeiro casamento da atriz com o diretor Marcos Paulo, e dois buldogues franceses, Manolo e Lola.
A atriz me cumprimentou com um grande sorriso. Deu risadas roucas enquanto conversávamos sobre o sacrifício de acordar cedo. Pediu que não escrevesse sobre os detalhes da decoração da casa. Foi acordar a filha, que, em seguida, levaria à escola. E a acompanhou no café da manhã. As duas faziam brincadeiras e davam risadas. A atriz comentou com a menina o sucesso que o chimpanzé Kate, que faz parte do elenco de Caras e bocas, andava fazendo nos bastidores das gravações. 'É um bicho muito inteligente', disse, admirada.
Sem trocar de roupa, Flávia levou a filha até a escola. Acompanhou Jujuba, como chama a menina, até a entrada. As crianças pareciam não dar importância ao fato de estarem próximas de uma celebridade. 'Me esforço para trazer Jujuba para a escola sempre. É o único momento do dia em que posso ficar com ela. Quando chego em casa à noite, ela já está dormindo', afirmou, mordiscando as cutículas das unhas e olhando as ruas do Rio pela janela do carro. 'Não dá para vir buscá-la por causa do assédio', disse, impassível.
No caminho de volta, Flávia contou que fez um plano B para sua carreira. 'Desde pequenininha eu queria trabalhar em TV. Aos sete anos, comecei a fazer comerciais. Aos 17, não tinha certeza se conseguiria ganhar a vida como atriz. Prestei vestibular para Comunicação, porque tinha a ver com a profissão que gostaria de seguir, e Direito, porque eu sempre gostei de ler, argumentar. Comecei a cursar as duas faculdades. Nesse período, também fiz três novelas. Por isso, era mal vista na faculdade de comunicação, onde a TV Globo era uma espécie de demônio. Os alunos eram agressivos e diziam que a Globo desinformava. Como não concordava com aquele discurso nem com aquela visão de mundo, desisti da faculdade de Comunicação. Terminei Direito em cinco anos. Foi tudo de bom. Ocupou minha cabeça, segurou minha ansiedade. Se tivesse passado esse tempo apenas esperando para fechar um contrato com a Globo, acho que teria pirado, sabe? Quando me formei, recebi um telefonema da emissora me chamando para um contrato. Eu tinha acabado de fazer a Dorothy, em A indomada. Não acreditei!'
'É estranho uma mulher conhecer um cara à tarde e sair com ele à noite'
Flávia tomou um café da manhã reforçado: café preto, frutas, iogurte com granola e mel. Terminou com um pequeno pedaço de bolo de fubá. 'Só um pouquinho não tem problema', disse, lambendo as pontas dos dedos sujos pela cobertura doce. Quando perguntei qual foi a última vez que topou com paparazzi, levantou as sobrancelhas, olhou para o alto e suspirou. 'Anteontem, quando fui comprar o presente do Ota (Otaviano) no shopping. Às nove da noite, um cara veio e tirou fotos minhas. Quando vi, falei para ele: 'Meu amigo, pelo menos segura até amanhã porque é aniversário do meu marido e é surpresa...'. Só vou ao shopping quando preciso. Também deixei de pegar praia, de frequentar os restaurantes e livrarias da Zona Sul, de ir com a Jujuba ao teatro no shopping da Barra. São lugares marcados.'
Flávia conheceu seu segundo marido em 2006, durante uma convenção em um cruzeiro, da qual ambos eram apresentadores. Na ocasião, já estava separada de Marcos Paulo, com quem ficou por 11 anos, havia dois. Quando fala sobre sua vida amorosa, se mostra romântica e até um pouco conservadora. 'Eu virei uma exceção. Ninguém mais fica junto por tanto tempo. Outro dia estava vendo novela e uma cena ficou na minha cabeça. Era uma mulher que dizia que conheceu um cara no café e ia sair com ele à noite. E hoje é assim, né? Acho essa rapidez estranha. É 'muderrno'. Como nosso mundo é individualista, nenhuma das partes cede, fica difícil manter uma relação a dois. E simplesmente se rompe. As relações estão descartáveis.' Flávia diz que também não vê a traição com olhos compreensivos. 'Não é o caminho. Se está a fim de ficar com outra pessoa, é melhor separar!'